HOMENAGEM: EM 29 DE ABRIL DE 1905, NASCIA DONA MARIA IZAURA
VALE. CONHEÇA A HISTÓRIA DESSA ILUSTRE JARDINENSE
O blog Encantos do Seridó homenageia uma das mulheres mais
marcantes da história de Jardim de Piranhas. Reproduzimos aqui, a matéria
completa publicada na 1ª edição da Revista Jardimemfesta, lançada durante a
Festa de Nossa Senhora dos Aflitos, em 2005. Confiram:
FAMILIA DE JANUNCIO E
MARIA IZAURA VALE, EM 1953
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Nascida a 29 de abril de 1905, no sítio Cachoeira do Anta,
município de Jardim de Piranhas-RN. Filho do casal Emílio Castelar Vale e Lília
Delmiro Oliveira do Vale, de família tradicional no Seridó, o seu pai
fazendeiro bem sucedido.
Criada na fazenda onde nascera teve uma infância como tinham as
crianças da época: alfabetizada e educada para o lar sob os princípios da
religião católica. Desta feliz união, nasceu no dia 23/01/1908 outra menina,
chamada Iraci Vale (que foi a mãe de Willy Saldanha). Seu pai, ficando viúvo,
contrai matrimônio com Dona Crispina. Desse casamento nasceram quatro filhos:
Francisca das Chagas Vale (Chaguinha), Leonir Vale, Valdir Vale e Benedito
Vale.
Em 1920, com 15 anos de idade, Maria Isaura vem nos finais de
semana, acompanhada de seu pai, fazer o curso de corte e costura, que era dado
na Casa do Rosário, para as moças da época. Foi vindo a Jardim que ela conheceu
um jovem bonito, chamado Janúncio, por quem se apaixonara. O seu pai opôs-se
firmemente ao namoro. Não havendo consentimento para namorar, resolveram fugir
para casar. Fugiram três vezes: a primeira, o pai mandou busca-la e a enviou
para Natal, onde passou um ano estudando na Escola Doméstica; a 2ª vez fugiu e
foi depositada na casa onde hoje mora Doca de Bastinha, na rua Velha. O seu pai
tinha um irmão que era militar, conseguiu autorização e colocou soldados de
guarda para leva-la a Caicó e depois viajaria novamente a Natal para a Escola
Doméstica. Foi aí que teve sucesso um plano de ação: a mãe de seu Janúncio,
Dona Theodora, e sua filha Mariana, entraram na casa onde Maria Isaura se
encontrava. Ela querendo ver a felicidade de seu filho, trocou as vestes de sua
filha Mariana, com a de sua futura nora, e ainda conseguiu tirar Maria Isaura
de dentro da casa sem que os policiais percebessem.
No outro dia, quando foram buscar a “fugitiva”, quem estava no
seu lugar era Mariana. Foi aquele alvoroço. Dona Theodora hospedou Maria Isaura
na casa de dona Iaiá Saldanha (mãe de Marinheiro Saldanha), onde o seu pai não
teve coragem de ir busca-la. O motivo do pai de Maria Isaura não aceitar o
casamento era porque sua família era de condição financeira elevada, e seu
Janúncio um jovem motorista profissional. Mas o amor verdadeiro foi mais forte.
Casaram-se no religioso na Capela de Nossa Senhora dos Aflitos,
no dia 17 de julho de 1922, sob às bênçãos do vigário cônego Celso Cicco.
Serviram de testemunhas Manoel Cordeiro Vale e João Dantas Costa. O casamento
civil foi realizado no dia 22 de setembro de 1922, pelo Dr. Joaquim Ignácio de
Carvalho Filho, Juiz de Direito, na cidade de CAicó-RN. Testemunhas: Odilon
Salvino de Araújo e Manoel Domingos de Medeiros.
Começava, então, uma vida nova, sua experiência de esposa e dona
de casa, tornando-se, com o passar do tempo, mãe de 11 filhos; sobreviveram
seis: Geocy, Gevani, Gevacy (falecido em 1962), Lília, Salete e Greice
(falecida ainda criança, em 1947).
Maria Isaura levava uma vida simples, rodeada de amigos, pois a
profissão de seu esposo (comerciante de tecidos), no Mercado Velho (hoje Casa
de Catequese), dava-lhe destaque naquela cidade pequena...Jardim dos anos 20.
Era uma mulher corajosa, trabalhava para ajudar na criação e
educação de seus filhos. Com apoio de seu esposo, disposição e amor, enfrentou
todas as dificuldades que surgiram a sua frente. Fazia doces, costurava em sua
máquina de cairel, depois Singer, todas as roupas da família.
Nos finais de semana gostava de visitar as famílias carentes e
os doentes, e quando percebia a pobreza da família visitada, retornava a sua
casa buscando alguma comida, lençóis e roupas para dá-los àquela mãe carente.
Seus gestos cristãos são lembrados até hoje quando carinhosamente a chamamos de
“Madrinha Isaura”.
Mulher de fé e muito religiosa. A partir de 1925, quando
construiu sua casa (hoje residência do padre), passou a dedicar-se à Igreja.
Naquela época, a capela estava quase abandonada. Assumiu, a pedido do Pe. Celso
Cicco, ser a guardiã do SS. Sacramento: todas as noites ia colocar o óleo do
farol do Santíssimo e rezar o terço. Celebrava o mês de maio com todos ardor e
devoção, e o dia mais esperado, em que toda a comunidade estava presente, era o
dia 31, para a coroação de Nossa Senhora pelos Anjos, tradição que se mantém
viva até os dias de hoje, fruto do seu trabalho. Com o passar dos anos, passou
o serviço de guardiã do Santíssimo para Maria Calixto de Medeiros, onde também
ensinou a conhecer todos os objetos litúrgicos e a purificar os sanguíneos.
Nessa época, além das festas religiosas tradicionais, colaborava
com a tradição da Confraria de Santo Antônio, e a pedido de seu pai, Emílio
Vale, assume a realização da Festa de Nossa Senhora do Rosário, devoção
familiar por graças alcançada.
No dia 03 de julho de 1932, ela e mais 12 zeladoras do Sagrado
Coração de Jesus recebem a fita do Sagrado Coração de Jesus do Apostolado da
Oração, fundado pelo Pe. Luiz Teixeira de Araújo, e foi eleita a primeira
presidente, cargo que assumiu por mais de 40 anos, passando para a senhora
Eunice Gonçalves.
Em sua residência, hospedava padres, frades, e demais
autoridades, onde tinha um quarto reservado somente para os religiosos.
Destacamos como hóspedes os bispos: Dom José de Medeiros Delgado, D. José
Adelino Dantas, e D. Manoel Tavares de Araújo, O Missionário Frei Damião de
Bozzano, e o Padre Demontiez (Português), por ocasião da visita da imagem
peregrina de Nossa Senhora de Fátima, em 1953. Frei Egídio e Frei Mariano, nas
Santas Missões de 1957.
Na época de D. José Delgado, foi criada a Escola Paroquial São
José, “escola dos pobres” como era chamada, onde Maria Calixto de Medeiros foi
a professora. D. Isaura coordenava e distribuía, com o Apostolado da Oração, o
leite em pó para as mães carentes, além de cestas básicas. Doava-se por inteira
por este trabalho social da Diocese de Caicó. Certamente tinha em mente os
ensinamentos de Jesus: o que fizestes ao menor dos meus irmãos é a mim que
estás fazendo.
O seu exemplo de zeladora do Coração de Jesus e mãe cristã, que
passou de geração à geração, resta-nos agradecer.
Em 1968, faz um pedido especial a Monsenhor Walfredo Gurgel,
(Governador do Estado), por intermédio do seu filho Geocy Vale de Freitas
(Prefeito Municipal), que fosse instalada em nossa cidade a energia elétrica
vinda de Paulo Afonso, a qual foi prontamente atendida. Segundo depoimento de
Geocy “todas as vezes que precisava falar com o Governador do Estado, as portas
estavam aberta”, e ele deve isso a grande consideração que as autoridades
tinham por sua mãe, mesmo sendo de partidos políticos diferentes.
Lembrar os bons momentos vividos ao seu lado nos traz saudades
e, ao mesmo tempo, o desejo de imitá-la, para que todos sintam todo o bem que
ela em nosso meio semeou.
Dona Maria Isaura cumpriu com dignidade, sabedoria, fé,
paciência, amizade e amor os papéis de mãe, avó e zeladora fiel do Sagrado
Coração de Jesus.
Por tudo isso, ela merece a nossa atenção, a nossa lembrança, o
nosso carinho e a nossa preocupação em torná-la sempre viva. Partiu desta vida
em 21 de junho de 1985, deixando-nos como maior herança o seu exemplo de MULHER
e MÃE. Seja a memória saudosa de sua vida, nossa luz hoje e sempre.
FONTE – BLOG ENCANTOS DO SERIDÓ